domingo, 26 de junho de 2011

Carta de um amor expresso

Eu fico pensando na minha relutância em não ouvir o que a minha mãe dizia e como os fatos vão virando tudo do avesso vem uma vontade grande de vomitar tudo isso que atropela a gente de repende sem pedir licensa vem passando mesmo sem dar tempo de recuperar o fôlego de pontuar a frase de quem sabe ousar uma vírgula é melhor falar tudo não pode simplesmente chegar e abalar transformar reconceituar destruir e recriar e eu deixei eu desejei eu quis e como quis pedi ajoelhei implorei e quando já tinha até esquecido o porquê de tanto choro só tava ali choramingando sem nenhum motivo mesmo veio você você veio você veio não acredito que chegou não é possível é possível sim é estranho porque pedia já sem esperar nada e voltou toda aquela sensação borboletas voando voem pode voar vai voa!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Carta dois

E aí quando eu chego em casa, dá vontade de te ligar, te contar tudo o que eu fiz como a gente fez por algum tempo, movidos por alguma cúmplicidade única, dessas que não se encontra em qualquer bar sujo e de esquina. E dá vontade de te ligar por todas as felicidades bobas e tristezas bobas do meu dia. E dá vontade de te ligar nos momentos vazios do dia e perguntar se seu dia tá divertido. Se você viu aquele filme que disse que ia ver, se vai pra aula hoje. 
E tem algumas vezes que eu fico quietinha antes de dormir e lembro de alguma conversa que a gente teve e até  dormir, em paz.
E tem algumas outras que eu te encontro em páginas do Caio, ou nas músicas do Geração, ou em qualquer filme francês que só você sabe gostar como eu gosto.
E tem a saudade dos bilhetinhos. 
E das conversas por olhares. Por visões.
E dá saudade até dos momentos bobos em que você me deixava sem graça, e eu sem saber o que dizer. 
Rêlampago, foi-se.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Carta número um.

Já não lembro se essa conversa foi verdadeira ou se é imaginária, mas sei que em algum plano discutimos a tal da saudade. Lembro da sua cara expressiva balançando daqui pra lá e de lá para cá, me explicando como se eu fosse uma criança que não sabe do que se trata a saudade, como se saudade tivesse manual, regras, leis para serem seguidas: "é assim que se sente saudade, tem que doer bem aqui no peito (e me dava um cutucão no peito, e eu rindo feliz) mas tem que ser uma dor boa, dor saudável. Suadável-saudade" E aí começava a brincar com as palavras saudável-saudade-sade-suada e tudo aquilo era divertido e superficial porque você tão criança como eu mal sabia ainda como era saudade dessas que a gente chama saudades de verdade, dessa que eu sinto por você agora. Saudade conformista, sei onde você mora, sei o teu telefone, sei de tudo da tua vida, todo mundo conta. A saudade é daquilo que a gente viveu e que sabe que não vai viver mais. Eu e você ali na praça ou ali no bar ou ali nas ruas sempre à noite, nunca mais.

Sei que pouco tempo depois que percebi que a gente tinha se transformado em saudade todos os lugares por onde passamos (e não são poucos) me lembravam você, e eu ficava ali, encarando o lugar tomada por pessoas estranhas, tomando conta do nosso lugar público, e olhava (vai que você aparecia; ia ser um momento mágico, místico, iriamos nos abraçar surpresos ou fingindo surpresa e dizer como era coincidência a gente se encontrar sem querer ali, bem naquele lugar) e sorria.

Eu sei que tenho medo, muito medo. Medo de perder essa saudade, de esquecer como você já foi especial, de como esses poucos momentos (poucos, mas intensos de tal maneira que duram até hoje) foram necessários para eu me tornar quem eu sou hoje. Você me ensinando a não ser máquina.